9 de março de 2015

Oscilação Postural e a percepção de affordances em crianças com transtorno do desenvolvimento da coordenação

A partir de agora os membros do GEADI farão postagens periódicas com resenhas de artigos científicos em nossa área de estudos, para que todos possam conhecer um pouco mais sobre os temas das nossas pesquisas. E convidamos a todos a deixarem seus comentários.

E a primeira postagem é da mestranda Flávia Aquino, sobre o artigo Postural sway and perception of affordances in children at risk for developmental coordination, de autoria de Chen FC, Tsai CL e Wu SK, Exp Brain Res (2014)232:2155-2165.

Confiram o texto a seguir:

Oscilação Postural e a percepção de affordances em crianças com transtorno do desenvolvimento da coordenação

Introdução 
Affordances é definido como o potencial de oportunidades do comportamento motor que é  proporcionado para o animal em um determinado ambiente, sugerindo que o principal ponto do affordances é perceber como o indivíduo pode agir, de que forma, quando é confrontado em condições particulares de um ambiente. Sendo associadas as características físicas e propriedades do ambiente, relacionando a teoria ecológica.
Este estudo foi concentrado em pesquisar como os movimentos do corpo humano são influenciados pela percepção dos julgamentos dos affordances, ou seja, como ocorre a interação entre os sistemas humanos (como o ser humano integra, discerni, distingue o pensamento) e como ele executa sendo sempre influenciado pelo meio ambiente.
Existem poucos estudos realizados em crianças com desenvolvimento motor típico e atípico com relação às características dos affordances, devido a dificuldade que é descrever a performance motora em atividades pois existe a necessidade de levar em consideração a maturação pelo sistema sensório- motor. 
O presente estudo procura analisar a oscilação postural seria afetado pelos julgamentos prévios e durante os affordances, sendo possível analisar a integração do sistema de percepção e ação na situação em que a criança com desenvolvimento motor típico e a criança com risco de transtorno do desenvolvimento da coordenação (RTDC) é colocada em sua sessão máxima de altura. 

Métodos
Alunos com idade de 11 e 12 anos da escola elementar de Pingtung Conty em Taiwan foram recrutados usando dois passos de procedimento para a pesquisa.  Foram selecionadas 76 crianças para a participação do estudo sendo aplicada a segunda versão da bateria motora: Movement Assessment Battery for Children (MABC-2) composta de seu checklist e teste de coordenação motora.
 Após a avaliação foram separados  as crianças em dois grupos: crianças com a coordenação motora pobre (composta por 38 alunos) e crianças com boa coordenação  (também composta por 38 alunos). Os grupos foram divididos de maneira mais homogênea possível, respeitando idade cronológica, altura, teste de QI. Foram excluídas as crianças que possuíam o TDAH associado.
Aparatos 
Foi desenvolvida uma cadeira para experimento com um cabo de madeira ajustável associado a ele. A cadeira poderia variar a altura, através de um dispositivo elétrico comando pelo experimentador, podendo ser ajustada de 25 cm até 75 cm, sua velocidade era de 2 cm por segundo. Uma fita métrica foi colada na parte de trás da cadeira sem que os participantes pudessem ver.  Uma câmera de vídeo digital foi usada para analisar e gravar a altura dês deslocamento do assento, para depois ser analisada. Uma sistema  de rastreamento magnético foi usado para coletar os dados cinemáticos da cabeça e do tronco durante o julgamento das sessões e inter-julgamento das sessões (Sendo descrito o julgamento o momento prévio que sucede a decisão e a fala).
Os participantes utilizaram um capacete e roupas apropriadas, que possuíam três emissores magnéticos nas regiões: cabeça e sétima vertebral cervical e um que se mexia para cima e para baixo na mesa do examinador variando de acordo com o tempo de início e final de decisão.

Procedimentos
O primeiro experimento foi demonstrado com a criança sentada na cadeira experimental, verificando que criança permaneceria sentada sem  manter os pés no chão e manteria o equilíbrio sem oscilar muito a cabeça e o tronco ou apoio manual. Em um segundo momento as crianças estavam posicionadas à dois metros da cadeira experimental, foram convidadas a tirar o sapato e ficarem em cima de blocos de 22 cm de comprimento e 10 cm de altura. Uma vez que o experimentador autoriza a cadeira começa se mover, sendo que a criança precisa falar para parar quando a cadeira atinge o comprimento máximo de sua altura sentada (SHmax). Foram permitidas pequenas correções verbais “um pouco mais para baixo ou para cima” para melhor alinhamento da cadeira. Também foi realizado o processo sem os blocos embaixo dos pés. O momento da integração ou julgamento dos affordances foi definido como a duração entre a fala do experimentador “pronto, pode ir” a fala da criança “pode parar”.  Também foi caracterizado a relação entre o último ultimo “pode parar” e o “pronto pode ir” como inter-julgamento ou inter-integração.
Um dos grupos iniciou com os pés no bloco e outro sem. Um dos grupos também iniciou a sessão com a velocidade da cadeira ascendente e outro grupo descente. 

Análise Estatísticas/ Duração dos dados/ Dados oscilação postural/ Dados correlacionados
Todos os dados foram analisados em ANOVAs. Foram utilizados test t student durante os julgamentos e inter-julgamentos das sessões. 
Resultados
O grupo com crianças de desenvolvimento motor típico (DMT) e o grupo RTDC não ocorreram diferenças  transversais entre as durações dos dados.
Na condição sem o bloco, o tempo dos julgamentos nas crianças com DMT (16.23 s) foi menor comparadas com o grupo com TDC (16.71 s). Na condição de inter-julgamento as crianças com TDC tiveram um menor tempo de sessão (14.01 s) comparado com DMT (14.83). 
Nas condições com blocos, a sessão de julgamento o tempo foi maior para o grupo com DMT(16.67) ao comparado com o grupo DMT (16.20) e a sessão inter-julgamento foi maior para o grupo com TDC (15.89) comparado ao grupo DMT (15.45).
O grupo de crianças com TDC ao ser analisado a oscilação de cabeça e tronco, é possível verificar que o deslocamento antero-posterior (AP), tanto de cabeça e tronco, é maior do que no grupo de crianças com DMT.  E a diferença em cm entre a percepção da altura máxima sentada ao ser comparada em ambos os grupos apresentam maior oscilação da percepção no grupo de RTDC. 
Ao ser analisado a oscilação postural (de cabeça e tronco) entre os julgamentos e inter-julgamentos em ambos os grupos. Ocorrem mudanças estatísticas significantes no grupo DMT em que ocorrem menos oscilações de acordo com a passagem entre inter-julgamento e julgamento, no grupo TDC não ocorrem mudanças e a oscilação sempre se mantém maior e estável.

Discussão
Crianças com risco para desenvolver TDC têm mais tempo de oscilação durante julgamentos de sessões atividades e realizam com menos exatidão. Outra situação encontrada é que o grupo com crianças DMT apresentou redução na oscilação postural entre o inter-julgamento e o julgamento durante as sessões, o que não foi encontrado no grupo RTDC.
Última situação encontrada no grupo DMT modulou a magnitude da cabeça AP durante os ensaios e foi aprendendo as percepções de ações dos affordances nas condições de bloco, diferindo do grupo RTDC. Podendo indicar que o grupo de crianças  com RTDC tem uma oscilação postural significante maior que o outro DMT. 

Conclusões
O presente estudo foi encontrado que ao compararmos o DMT com RTDC e a criança em risco possui maior oscilação postural e menor modulação, maior lerdeza para percepção de julgamentos para os affordances em SHmax. Foi concordado que futuramente pesquisas em sistemas manipulados com várias práticas como correr, e sentar podem determinar e melhorar a exatidão do julgamento em diversas situações.

2 comentários:

  1. Obrigada Flávia pela resenha. Esse artigo reforça uma hipótese importante, pois demonstra diferenças entre percepção e ação em crianças com risco de TDC e aquelas com desenvolvimento típico, além dos déficits em controle postural. Outra leitura interessante sobre esse tópico é o artigo Perceptual deficits in clumsy children: inter- and intra-modal matching approach--a window into clumsy behavior, de H. Sigmundsson (2003). Ele discute duas linhas de investigação sobre os déficts perceptivos subjacentes aos problemas motores: a primeira é o déficit visuo-perceptivo e a segunda são os déficits visuo-motores e proprioceptivos. Uma limitação desse estudo, a meu ver, pode ser a não identificação de sintomas de TDAH nessa amostra. A grande sobreposição entre os transtornos (ao redor de 50%) e o fato de indivíduos com TDAH também apresentarem déficits de equilíbrio e controle postural ressaltam a necessidade de estudos sobre os problemas motores em amostras bem definidas nesses transtornos do neurodesenvolvimento.

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  2. Os resultados deste estudo são muito interessantes, uma vez que trazem evidencias de que crianças com TDC demoram mais tempo para realizar tarefas simples e aparentemente seu atraso motor é somado com a demora no planejamento de ação e ajustes posturais. É possível que o affordance de crianças com TDC, sua relação corpo, espaço, tempo e tarefa/objeto seja prejudicada pelo processamento neurológico e execução motora lenta, porém mais estudos são necessários para justificar tais evidencias, pois a amostra do presente estudo é composta de crianças "em risco" de TDC e não fica claro o porque crianças com TDAH foram excluídas e nem se foram realizados testes para detecção de demais comorbidades que possam influenciar nos resultados apresentados ou mesmo se tais foram controlados uma vez presentes.

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